17 de março de 2011

Velhice

Agora no fim da vida,
é tempo de despedida,
viagem só de partida,
jornada não escolhida.

Aquele que tudo fez,
agora está tão sozinho,
caminha devagarinho,
a espera de um carinho.

Aquele ser paciente,
que esteve sempre presente,
agora é como um repelente,
enchendo o saco da gente.

Muitas vezes desprezados,
esquecidos e desamparados,
tratam-os com intolerância,
abandonando-os a distância,

Familiares com lealdade,
tratam-os com dignidade,
dando-lhes calor e amizade.


Velhice não é sofrimento,
é ternura e encantamento.
Também não é decadência,
é apenas uma circunstância.

É preciso dar-lhes atenção,
amor, carinho e proteção,
para que a culpa e a aflição,
não deixe sequelas no coração.

Aquele que a todos fez,
agora está tão cansado,
caminha desengonçado,
a espera de ser amado.

Aquele olhar marejado,
agora já está focado,
naquilo que foi buscado.

Naquele lugar tão sonhado,
semelhante ao Eldorado,
jamais será desprezado.

Milagre x fatalidade


Há uma tendência no ser humano em atribuir tudo aquilo que de bom acontece, sem uma explicação admissível a sua razão, a um milagre. E tudo que de mal acontece, a uma fatalidade.
Quando ocorrem “milagres”, atribuímos a Deus a sua autoria. Mas quando acontecem “fatalidades”, logo tratamos de tirar a culpa do Criador, atribuindo-as ao demônio, ao livre arbítrio ou ao carma, ou mesmo, ao acaso.
Entretanto, demônio, livre-arbítrio e carma, foram criados pelo próprio ser humano, para fechar algumas lacunas - de não conseguir explicar a existência do mal sobrepujando o bem com notável frequência, apesar de Deus ser um Pai onipotente e bondoso.
1.º Deus é imutável. Se Ele fizesse milagres, estaria mudando os seus desígnios, que são eternos.
2.º Deus é um ser absolutamente perfeito. Ora, o milagre parece ser um retoque ou um corretivo imposto à obra da sua criação.
Nosso cérebro foi formatado para encontrar sentido em tudo. Por exemplo, acertar na Mega-Sena é extremamente difícil. A chance é de 1 para mais de 50 milhões. Mas como sempre haverá ganhadores, nós atribuímos essa ocorrência a sorte. Mas, se os números sorteados forem 01, 02, 03, 04, 05 e 06, e o ganhador for uma pessoa carente, religiosa e necessitando de recursos financeiros imediatos, logo atribuiríamos isso a um milagre, apesar da chance de dar essa sequência ou outra, é a mesma.
Outro exemplo, se um passageiro chegar atrasado ao aeroporto, não conseguindo embarcar, e após, o avião cair matando todos os passageiros, atribuímos isso a um milagre. Não levamos em conta os dados estatísticos, tais como: a toda a hora pessoas chegam atrasadas ao aeroporto e não embarcam; a toda a hora pessoas antecipam voos; a toda a hora pessoas prorrogam voos, e uma série de combinações possíveis, com ou sem queda de avião. 
Existem fenômenos que ocorrem e nossa razão consegue elucidar. Então, as pessoas indolentes não se esforçam para esclarecer e preferem atribuir esse fenômeno a obra divina, e chegam a conclusão que é um “milagre” e pronto.
Um fato ou fenômeno para ser considerado milagre tem que ser de IMPOSSÍVEL ocorrência. Assim temos:
1) Num desastre aéreo: se um único passageiro se salvar. É impossível?
NÃO.
Então não é milagre (A probabilidade de um avião cair e só uma pessoa se salvar é de uma em 40 milhões. Desde 1970, 16 pessoas conseguiram esse feito).
2) Num desastre aéreo: se uma pessoa perder o voo (com ou sem intuição) e o avião cair. É impossível?
NÃO.
Então não é milagre (em todos os voos existem pessoas perdendo, adiantando ou prorrogando os voos).
3) Num desastre aéreo: se o avião a 12km de altitude se desintegrar totalmente e um passageiro sobreviver. É impossível?
Talvez SIM.
Então é milagre.
4) Num desastre aéreo: se uma pessoa queimar durante 2 horas, a uma temperatura de mais de 1.000 graus, sem proteção nenhuma, e sobreviver. É impossível?
Talvez SIM.
Então é milagre.
5) Numa doença terminal. Se uma pessoa sobreviver a um câncer “terminal” (com reza ou não). É impossível?
NÃO.
Então não é milagre (Diagnóstico mal feito; melhora temporária; cura natural; etc.).
Milagre é uma crença. Crenças são produtos do cérebro - explicações internas que criamos para satisfazer nossos anseios e aflições. São convicções sobre a realidade que adquirimos no decorrer da vida através das pessoas com as quais convivemos. Como somos seres acomodados e indolentes e não queremos ser responsáveis por nossos atos e destino, preferimos entregar tudo isso nas mão de um criador.
Outra alternativa é aceitar esses acontecimentos (milagres ou fatalidades), como obra do Acaso, ou das leis da Natureza, ou de algum outro causador ainda não identificado.