29 de janeiro de 2010

Sobre o rezar

“Rezar faz bem. Proporciona conforto espiritual e estimula o espírito do amor e da caridade”

“Deus é a Lei. A Lei funciona automaticamente. Não tem nada a ver com um deus pessoal ou com um deus emocional que se possa comover”

“Existe Justiça Divina, mas Deus não é culpado de nada”

“Nem todo aquele que reza é bom. Nem todo aquele que é bom reza”

“Não basta rezar, tem que ser bom. Basta ser bom, não precisa rezar”

28 de janeiro de 2010

Verdade e realidade

Conforme nossa vã filosofia, verdade é uma representação humana sobre as coisas, fundamentada nos ensinamentos do passado, na observação das realidades presentes, e na convicção que estes dois elementos criam na consciência de cada um. É tudo aquilo que nós acreditamos que existe. É uma construção mental de nossa cabeça. A verdade é uma subjetividade. É uma idéia abstrata. Em si não existe.

Realidade é aquilo que independe de nós, que existe por si mesmo e que continuaria existindo mesmo se toda a vida fosse varrida do Universo. È algo completamente desvinculado de nossa vontade, de nossos sentidos, de nossas opiniões, de nossos objetivos, de nossos ideais -  em suma, desvinculado do que somos.

Verdade é um conceito que utilizamos para descrever a realidade, sendo a ciência um instrumento para explicar a realidade. O que faz com que a ciência não seja uma verdade absoluta é que, se o fosse, deixaria de fazer sentido como ciência, pois as conclusões retiradas dos nossos objetos de estudo seriam as verdades absolutas e daí não saíamos. Mas como é sabido, o que faz a ciência evoluir, é a sua capacidade de se autocríticar e de duvidar das suas premissas.

Na ciência não existe uma verdade incontestável. A verdade parece estar sempre no futuro, no próximo passo dos nossos estudos e isso tem mostrado aos verdadeiros cientistas - àqueles tem sempre a consciência dessa limitação - que a verdade absoluta nunca pode estar no contexto cientifico como ele é concebido atualmente. No entanto, as verdades - os conceitos - da ciência podem se mostrar confiáveis na indicação do caminho para que o homem encontre a verdade final, mas elas nunca poderão informá-lo com precisão se a escolha foi certa e nem o que ele vai encontrar no fim da sua jornada.


15 de janeiro de 2010

Assim é a vida

Para uns é paz e felicidade,
Para outros é luta e adversidade.
Para uns ela é generosa,
Para outros ela é maldosa.

Para uns ela é prazer,
Para outros é padecer.
Para uns ela bafeja,
Para outros ela apedreja.

Para uns ela é bela,
Para outros é mazela.
Para uns ela é bondade,
Para outros ela é crueldade.

Assim é a vida,
Feita pra ser vivida,
Nunca pra ser sofrida.

Se sofrimento é bom,
Se é útil e necessário,
È culpa da religião,
Que criou esse cenário.

Só nos resta navegar,
Neste mundo de aflição,
Crendo que tudo não passa,
De uma maravilhosa ilusão.

João Carlos Coutinho

11 de janeiro de 2010

A evolução da bondade

Muitos biólogos acreditam que somos todos seres egoístas, que buscam apenas espalhar os próprios genes e perpetuar a linhagem a que pertencemos – até em nossos atos mais benevolentes.

È uma ironia amarga que ainda seja necessária promover campanhas contra a fome. Se você reparar bem, os hábitos sociais da espécie humana são de uma generosidade proverbial no que diz respeito à comida. Em virtualmente todas as culturas, grandes festas são acompanhadas de comilança. Estamos sempre oferecendo comida aos outros, seja na forma de um casual chiclete ou de uma recepção formal. E quem já não entrou numa daquelas ridículas disputas para pagar a conta do restaurante? O problema é saber se essas práticas sociais realmente se qualificam como exemplos de generosidade. Em inglês, um ditado muito corrente no mundo dos negócios diz que there’s no free lunch – traduzindo, “não existe almoço grátis”.

O gesto desinteressado do verdadeiro altruísmo parece ser uma impossibilidade evolutiva. Um comportamento só pode ser qualificado de altruísta se ele traz benefícios para os outros e custos para quem o pratica. Ou seja, o altruísta está diminuindo sua aptidão para favorecer a dos outros. Suas chances de sobreviver e de reproduzir são menores, enquanto todos os demais – inclusive os egoístas – levam vantagens. A longo prazo, o altruísta deveria ser levado à extinção, deixando o campinho livre para que o egoísmo grasse como erva daninha.

A luta pela sobrevivência parece favorecer mais os George Soros do que as madres Teresas. E no entanto ainda existem altruístas entre nós (ou não?). Como pode ter evoluído uma característica que parece antievolutiva? Há várias explicações. Antes de voltarmos ao almoço, é preciso remontar a história dessa discussão na biologia.

EGOÍSMO MOLECULAR: Para o biólogo Edward Wilson, da Universidade de Harvard, Estados Unidos, a evolução do altruísmo é o problema teórico central da sociobiologia, ciência que busca entender em bases biológicas o comportamento social de animais. A questão já intrigava o próprio naturalista inglês Charles Darwin, que em 1871, na obra A Origem do Homem, utilizou a seleção de grupo para explicar a evolução da moralidade humana. O comportamento moral, ensina Darwin, não traz vantagem para o indivíduo, que lucraria mais desobedecendo as regras para agir de acordo com sua vontade própria. Mas uma tribo regida por valores que enfatizem “o espírito de patriotismo, fidelidade, obediência, coragem e solidariedade” certamente será mais coesa e organizada e assim terá maiores chances de vitória na disputa por recursos naturais ou territórios com tribos menos virtuosas. A seleção natural, portanto, agiria não somente sobre os indivíduos, mas também sobre grupos competidores.

Darwin, no entanto, colocava mais ênfase na seleção individual, na luta de cada um contra todos, e não desenvolveu plenamente o conceito de seleção de grupo. Vale lembrar que Darwin montou a teoria da seleção natural sem sequer desconfiar da existência dos genes. Na primeira metade do século passado, genética e evolução foram combinadas no que os biólogos chamam de teoria sintética. E, a partir dos anos 60, uma nova revolução científica deu a primazia absoluta ao gene na luta pela sobrevivência. Essas pequenas seções do DNA são as unidades replicadoras básicas. Graças à sua habilidade impar de produzir cópias de si mesmos, os genes que você carrega em cada uma de suas células já estiveram presentes nos seus antepassados e serão transmitidos a seus descendentes. Você, leitor, é só um recipiente transitório. Portanto, é no interesse do gene – e não do indivíduo e muito menos do grupo – que a seleção natural opera.

Os nomes fundamentais dessa corrente são os biólogos George C. Williams, da Universidade Estadual de Nova York, Estados Unidos, e William Hamilton, falecido em 2000, considerado um dos maiores teóricos da evolução de todos os tempos. Hamilton desenvolveu o conceito de seleção de parentesco. Quando você come na casa de um parente, pode ter certeza de que esse não é um free lunch: ele já está pago em moeda genética. Nossa generosidade em relação aos parentes começa no DNA. Segundo a teoria de Hamilton, o sacrifício por um parente compensa proporção da semelhança genética com ele. Assim, a aptidão reprodutiva de um indivíduo não se mede apenas pelo número de filhos que ele consegue ter, mas também inclui parentes próximos que carregam frações de sua carga genética. Você compartilha, por exemplo 50% dos genes com seu irmão ou irmã. Portanto, do ponto de vista evolutivo, vale a pena se sacrificar por um irmão se o sacrifício custar a você no máximo 50% do benefício que traz a ele.

A melhor síntese da teoria talvez esteja em um gracejo do geneticista britânico J.B.S. Haldane, antecessor de Hamilton. Perguntado se daria a vida por um irmão, Haldane respondeu: “Não, mas daria por dois irmãos ou oito primos”. Ainda mais feliz na síntese foi outro biólogo inglês – Richard Dawkins, da Universidade de Oxford, Reino Unido. Em 1976, o título do seu livro O Gene Egoísta resumiu tudo o que a biologia mais recente estava propondo. Na trilha de Williams e Hamilton, Dawkins enfatiza o papel fundamental da genética na seleção natural. Para ele, nós somos apenas “máquinas de sobrevivência”, robôs a serviço dos genes – e “nós” inclui todos os seres vivos, da bactéria ao físico quântico. Pergunte a um amigo – que não seja biólogo, bem entendido – como funciona a seleção natural. Provavelmente, lá pelas tantas ele vai falar em “perpetuação da espécie”. Dawkins ensina que não é isso que está realmente em causa. Exemplo cruel mas esclarecedor: quando um leão junta-se a um novo grupo de fêmeas, ele muitas vezes mata os filhotes que elas tiveram com outros machos. Ele não está minimamente interessado em perpetuar a espécie. Quer apenas que as leoas estejam devotadas exclusivamente aos seus filhotes, herdeiros de sua preciosa carga genética.

CARNE SEXY: A teoria do gene egoísta pode parecer uma forma desencantada de ver o mundo. Ela contradiz não só as noções vulgares (e simpáticas) de evolução que circulam por aí. Desafia também aquele papo new age de viver em harmonia com a natureza, de entrar em sintonia com a mãe terra. Pois é: nada disso tem sustentação na ciência de Williams, Hamilton e Dawkins. A natureza não é harmônica e guarda tantos ou mais exemplos de egoísmo quanto de altruísmo. Tome os pingüins, por exemplo. Do alto das geleiras onde se agrupam, é difícil discernir se há predadores no mar abaixo. Se fossem altruístas, cada um se ofereceria para pular primeiro e verificar se a barra está limpa. Não é o que acontece: geralmente, um pingüim empurra o outro e vê se a vítima não é atacada.

A seleção de parentesco tem sido utilizada para explicar a extraordinária organização que vemos nos chamados insetos sociais. Se a cooperação em um formigueiro ou em uma colméia parece impecável, é porque geralmente todos são filhos da mesma rainha, o que os torna geneticamente semelhantes. Quando a abelha operária resolve colocar ovos – o que raramente ocorre –, suas colegas os destroem, pois o filho de uma “irmã” será geneticamente mais distante delas do que os filhos da rainha-mãe. No formigueiro, as coisas são simples: todas as operárias são estéreis.

“Em muitos sentidos, nós, humanos, somos menos cooperativos do que os insetos sociais”, diz o biólogo Robert Trivers, da Universidade de Rutgers, em Nova Jersey, Estados Unidos. Mas, complementa ele, é preciso entender que são sistemas muito distintos: “Entre as formigas, há parentesco próximo e, em geral, muito pouco conflito interno. Entre nós, há um sistema de altruísmo recíproco com um meio de troca – o dinheiro – que uniu o mundo inteiro em uma economia interligada, mas com muito mais conflito interno e muito menos altruísmo”. Em 1971, Trivers formulou, com o incentivo de Hamilton, a teoria do altruísmo recíproco, que é, de forma simplificada, a idéia de que uma mão lava a outra.. Para explicar esses modelos, os biólogos, utilizam formulações matemáticas, valendo-se especialmente da teoria dos jogos, que elabora equações capazes de explicar o mecanismo de várias formas de disputa social.

Com a reciprocidade em mente, podemos voltar ao hipotético almoço do primeiro parágrafo. Afinal, por que somos aparentemente tão generosos com comida? A sociobiologia encontra as raízes de comportamento nos primórdios do homo sapiens, quando ainda vivíamos em tribos de caçadores-coletores. Claro que não podemos saber como era a organização social do homem primitivo, mas algumas pistas podem ser buscadas entre caçadores-coletores do mundo moderno. Estudos antropológicos têm revelado características comuns mesmo em culturas geograficamente afastadas, como os ache do Paraguai e os !kung do deserto de Kalahari, no sul da África. Há uma divisão sexual do trabalho: as mulheres coletam raízes e frutos; os homens saem à caça. Os vegetais obtidos pelas mulheres são geralmente consumidos somente pela família; a carne trazida pelos homens é dividida com a tribo de forma igualitária. É a reciprocidade em prática: uma vez que o sucesso da caçada depende não somente de habilidade e esforço, mas também de sorte, é provável que mesmo um bom caçador muitas vezes termine o dia de mãos vazias. Por isso, é essencial que ele possa contar com uma porção da caça dos outros. Influi aqui também o fato de a carne ser um bem perecível. O caçador não seria capaz de comer sozinho um dos mamutes que ainda andavam por aí quando surgiu o ser humano.

Mas o que impede o Macunaíma da tribo vadiar enquanto seus companheiros arriscam-se na caçada? E por que o bom caçador deveria dividir seu produto de forma tão equânime? Foi ele que caçou – por que não ficaria com o pedaço maior? Nesse ponto entra o sistema de recompensas e punições que reforça o altruísmo recíproco. Recusar-se a dividir a carne seria quebrar a etiqueta e expor-se à vergonha pública. E o bom caçador também tem suas vantagens: é considerado o homem mais sexy da tribo. Consegue parceiras com muito mais facilidade, seja para o casamento, seja para casos extraconjugais.

ECOSSISTEMAS PROJETADOS: Os modelos de seleção de parentesco e altruísmo recíproco, como se viu, abrem espaço para algumas formas de altruísmo. Mas quem faz o bem somente aos seus não é generoso – é nepotista. E podemos qualificar altruísmo aquilo que fazemos com vistas a uma retribuição futura? Fica a sensação de que, sob a pele de cordeiro do altruísmo, vamos sempre encontrar um lobo egoísta. Aliás, é exatamente o que afirmou em 1974 o biólogo americano Michael Ghiselin: “Arranhe um altruísta, e você verá um egoísta sangrar”. A humanidade coopera entre si por causa da cultura e dos genes. Para o físico e biólogo Rob Boyd, a evolução cultural pode ser tão importante quanto a genética na evolução do altruísmo. “A cultura está nos genes, mas os genes também dependem da cultura”, resume Boyd.

Jerônimo Teixeira - Super Interessante Junho/2003

Cronologia da fé

Acreditar Nele sem vê-Lo, sem ouvi-Lo e sem tocá-Lo. Acreditar sem questionar. Rejeitá-Lo significa rejeitar a Verdade”

MEDO E IGNORÂNCIA: Medo das forças “misteriosas” da natureza (trovões, raios, enchentes, vulcões, maremotos, terremotos, vendavais), medo da fome, de animais, de doenças, do sofrimento, da morte, do desconhecido. Falta de interpretação dos fenômenos naturais. Movimentação do sol e da lua. Estrelas cadentes. Imensidão do Universo. Trovões, raios, enchentes, vulcões, maremotos, terremotos, vendavais.

SERES IMAGINÁRIOS: Num mundo cheio de mistérios, o homem primitivo imaginou seres invisíveis, poderosos, como os autores dos fenômenos da natureza. A esses seres imaginários chamou de deuses. E logo passou a atribuir as desgraças e alegrias que lhes aconteciam a esse “ser” sobrenatural. A única maneira de acabar com o medo era através de súplicas a esse “ser”.

LÍDERES ESPIRITUAIS: Alguns astutos perceberam que esse “ser” podia ser usado de modo lucrativo. Através dele o povo podia ser levado à obediência. Surgia uma classe de pessoas que se diziam mediadoras entre esse ser e o povo. Eram os “líderes espirituais”. Diziam que tinham poderes especiais para aplacar a ira desse “ser” temido.

AMEAÇAS E PUNIÇÕES: Esses líderes espirituais, querendo que esse “ser” ficasse impregnado nas mentes das pessoas, inclusive nas mentes das gerações futuras, procurou convencer seus adeptos com ameaças - com a idéia de um “ser” que está observando a todos, a toda hora, e irá punir as pessoas que desobedecerem a seus mandamentos com as mais terríveis punições.

RELIGIÕES: Os primeiros seres foram fabricados sob numerosos modelos, e de acordo com as mais grotescas formas. A maioria desses seres era vingativos, selvagens e ignorantes. Assim, cada “ser” tinha seu “líder espiritual” e uma multidão de adeptos. Tudo era explicado através de fábulas. O medo e espanto diante os fenômenos naturais e a falta de conhecimento das leis naturais, propiciaram ao homem, criar imaginações e ilusões, na crença no sobrenatural, uma força acima da natureza que o homem poderia influenciar pela adoração, sacrifício e oração. Deste modo surgiam as religiões e seus seres divinos.

PODER E RIQUEZA: Com o passar dos tempos alguns líderes descobriram que, quanto mais adeptos tinham, mais poder detinham. Mais poder, mais riqueza. Mais riqueza, mais poder. Em busca de mais adeptos e poder, iniciaram guerras com líderes de outros seres. Cada líder dizia que seu “ser” era o verdadeiro.

DEUS: A seguir, alguns líderes, revoltados, para angariar mais adeptos, se uniram e criaram um “ser” que deveria ter a sua imagem e semelhança. Um “ser” do bem, que deveria ter ao mesmo tempo a imagem e semelhança de todas a raças. Um “ser” supremo, absoluto, misterioso, eterno, perfeito, onipotente e onisciente. A esse “ser” deram o nome de Deus. Deus surgia na mente do homem como uma projeção da figura do pai, e exatamente como ele, castiga, impõe limites e, na medida do nosso bom comportamento e submissão, nos protege do mal e da destruição. Um “ser” invisível. Um “ser” responsável pela criação de todas as coisas que existem na natureza. Um “ser” que criou tudo e não foi criado.

DIABO: Como não tinham explicações para a maldade e tudo de errado que acontecia, apesar das rezas e obediência a Deus, criaram um “ser” que deveria ser o responsável por tudo que de mal ocorria na natureza. A esse “ser” deram o nome de Diabo.

DEUS OU DIABO: Assim, sempre tinham uma explicação: As catástrofes e infortúnios podiam ser provocados por Deus ou pelo Diabo. Quando provocados pelo Diabo era porque as pessoas estavam afastadas de Deus. Quando provocados por Deus era para expressar o seu poder.

PAI DOS POBRES: Alguns líderes, para angariar adeptos das classes sociais mais numerosas, disseram que Deus amava os pobres, os que têm fome e os que sofrem. Com isso conseguiram espalhar adeptos por todo o mundo. Viram que esses adeptos eram capazes de matar e morrer por esse deus. Com isso, detinham o corpo das pessoas, o poder supremo do Estado e a maioria das nações.

ALMA: Para angariar adeptos de todas as classes sociais, para dominar a mente das pessoas, disseram que elas tinham um “corpo espiritual”. E com grande imaginação criaram a “alma”. Conceberam a idéia de que era eterna, que saía das mãos de Deus, e às suas mãos regressava depois da morte. Como isso, ninguém mais morria, apenas o corpo.

REENCARNAÇÃO: Outros líderes, com não menos fantasia, imaginaram que se reencarnava, que a alma vivia encarnações sucessivas, usando corpos distintos até chegar a uma vida perfeita e já livre de reencarnações. Com isso conseguiam dar explicações para infortúnios, crueldades, justiças e injustiças, e até para defeitos físicos congênitos.

KARMA: Era a lei do karma. Teriam que ser “bons” para que a alma se aperfeiçoasse e chegasse finalmente a Deus, ou para interromper o ciclo de reencarnações. Quem fizesse alguma malvadeza na vida passada, no corpo de outra pessoa, deveria pagar, no corpo atual, na mesma moeda, salvo se fosse bom e se arrependesse, seguindo as determinações de seus líderes. Por outro lado, quem fizesse alguma malvadeza no corpo atual, deveria pagar, na vida futura, no corpo de outra pessoa, na mesma moeda, salvo se fosse bom e se arrependesse, seguindo as determinações dos futuros líderes.

GUIAS ESPIRITUAIS: Esses líderes (guias espirituais) passaram a ser os porta-vozes e intérpretes dos adeptos mortos. Eram os administradores de consciências, de crenças e de almas. Eram eles que formavam conceitos de bem e de mal. Eram eles que impunham idéias nos seus adeptos. Tudo tinha explicação. Para que se preocupar? Alguém nasce defeituoso? Deus assim quis/Era seu karma. É um malfeitor? Deus é quem sabe/Era seu karma. Morreu jovem? Chegou sua hora/Deus o chamou/Era o seu karma.

LIVRE-ARBÍTRIO: Para fechar algumas lacunas, de não conseguir explicar a existência do mal sobrepujando o bem com notável freqüência, apesar de Deus ser um Pai onipotente e bondoso, criaram o livre-arbítrio. Com isso, Deus passou a não ser mais responsável pelas maldades, bestialidades, tragédias e desgraças existentes no mundo. A culpa passou a ser do homem que usa seu livre-arbítrio.

EXPICAÇÕES PARA TUDO: Com isso, tudo passou a ter explicações: Homicídios, maldade, agonia, doenças, bestialidades, morte prematura, escravidão, dementes e deformados. Ou é culpa do karma ou do livre-arbítrio ou de ambos. Até o ingresso do Diabo no corpo ou alma (possessão) passou a ser culpa do livre-arbítrio.

FÉ: Finalmente, para que os adeptos não se afastassem de Deus, disseram que “Deus é verdade” e que “Deus é amor”. Com isso, Deus, amor e verdade passaram a ser sinônimos. Quem se afastasse de Deus estaria se afastando da verdade e do amor. Para que Deus não fosse contestado e debatido, disseram que os adeptos tinham que acreditar Nele sem vê-Lo, sem ouvi-Lo e sem tocá-Lo. Acreditar sem questionar. E criaram a “fé”. Com isso, rejeitar a fé significa rejeitar a verdade.

Fernando em pessoa

Navegar é preciso; viver não é preciso.

Valeu a pena? Tudo vale a pena se a alma não é pequena.

O coração, se pudesse pensar, pararia.

Se escrevo o que sinto é porque assim diminuo a febre de sentir.

Nós nunca nos realizamos. Somos dois abismos - um poço fitando o céu.

O maior domínio de si próprio é a indiferença por si próprio.

A Ironia é o primeiro indício de que a consciência se tornou consciente.

Há momentos em que tudo cansa, até o que nos repousaria.

Quem sou eu para mim? Só uma sensação minha.

Deus é o existirmos e isso não ser tudo.

Haja ou não deuses, deles somos servos.

O único modo de estarmos de acordo com a vida é estarmos em desacordo com nós próprios. O absurdo é o divino.

Foi-se do dogmatismo a dura lei. E o cristicismo não foi mais feliz. -Nada sei - o agnóstico assim diz... Eu menos, pois nem sei se nada sei.

Nunca amamos alguém. Amamos, tão-somente, a idéia que fazemos de alguém. É a um conceito nosso - em suma, é a nós mesmos - que amamos.

Tudo que sabemos é uma impressão nossa, e tudo que somos é uma impressão alheia, melodrama de nós, que, sentindo-nos, nos constituímos nossos próprios espectadores ativos.

Tenho tanto sentimento que é freqüente persuadir-me de que sou sentimental, mas reconheço, ao medir-me, que tudo isso é pensamento, que não senti afinal.

Temos, todos que vivemos, uma vida que é vivida e outra vida que é pensada, e a única vida que temos é essa que é dividida entre a verdadeira e a errada. Qual porém é a verdadeira e qual errada, ninguém nos saberá explicar; E vivemos de maneira que a vida que a gente tem é a que tem que pensar.

Fernando Pessoa