31 de março de 2009

Evolução em tempo real

Um dos maiores flagelos atuais da humanidade, a pandemia de Aids, paradoxalmente nos dá uma oportunidade única: ver a evolução por seleção natural ocorrendo em tempo real. Isso acontece porque o vírus HIV replica-se com enorme rapidez e também porque a enzima responsável, a transcriptase reversa, é predisposta a erros. Em conseqüência, o HIV está constantemente sofrendo mutações, gerando no paciente um enxame de variantes virais sujeitas às forças da seleção natural.

Quando um medicamento anti-HIV entra na corrente sangüínea, a seleção natural favorece as variantes resistentes do vírus, que então sobrevivem, se multiplicam e passam a predominar em pouco tempo. Este processo darwiniano é basicamente o mesmo que ocorreu nas centenas de milhões de anos da evolução da vida na Terra, só que agora é medido em dias e horas. Não há desenho nem direcionalidade, apenas as forças combinadas do acaso e da necessidade gerando cepas cada vez mais resistentes.

Uma estratégia para tentar driblar esse processo de seleção é o uso concomitante de vários fármacos anti-retrovirais com alvos diferentes, a chamada terapia tríplice. Assim, para sobreviver, o vírus precisaria ter múltiplas resistências simultaneamente, o que é muito improvável. Infelizmente a variabilidade genética é tamanha que tal multirresistência ocorre em alguns casos. Dessa maneira, para doentes com Aids, a evolução por seleção natural é uma inimiga! Entretanto, recentemente foi descoberto que ela pode ser manipulada a favor do paciente. Isso, como sói acontecer, foi descoberto acidentalmente.

Em 1997 a médica alemã Veronica Miller, da Universidade Goethe, em Frankfurt, estava tratando um paciente simultaneamente com vários medicamentos anti-HIV quando observou que não só havia resistência do vírus a todos eles, como também o paciente já estava apresentando sinais de toxicidade medicamentosa. Na falta de alternativas, ela decidiu suspender todos os medicamentos até que os sintomas tóxicos desaparecessem. Após três meses sem tratamento o paciente foi reexaminado e, para surpresa de todos, a resistência viral havia desaparecido! Em outras palavras, em 90 dias a população do HIV havia evoluído de um estado de resistência a todos os fármacos a um estado de suscetibilidade a todos eles. O que havia ocorrido?

Logo se constatou a razão. Na presença dos medicamentos, as cepas resistentes predominavam, mas algumas cópias do vírus infectante original não resistente (o chamado tipo selvagem) sobreviviam nos linfócitos. Quando os medicamentos foram suspensos, a vantagem seletiva das cepas resistentes desapareceu e o tipo selvagem, melhor adaptado a esse ambiente sem fármacos, começou a se replicar com enorme velocidade e logo substituiu as mutantes resistentes. A partir dessa constatação, nasceu o chamado “tratamento de interrupções estruturadas” da Aids, uma nova arma na guerra contra a doença, alicerçado ortodoxamente em princípios darwinianos!

Sergio Danilo Pena Professor
Titular do Departamento de Bioquímica e Imunologia
Universidade Federal de Minas Gerais

23 de março de 2009

Um robin hood às avessas

A respeito do estacionamento rotativo no centro de Rio Grande, cerca de 1,3 mil vagas, creio que o projeto não foi avaliado sob ponto de vista dos trabalhadores, que diariamente, por não terem um transporte público eficiente, utilizam seus veículos para se locomoverem ao centro da cidade e estacionarem o mais próximo de seu trabalho. São eles, que juntamente com os comerciantes, utilizam cerca de 80% das vagas no centro da cidade.

Embora uma pesquisa no site da Prefeitura, com comerciantes e motoristas em geral, diga que 62% comerciantes e 77% do público em geral são a favor do estacionamento rotativo, isso não condiz com a realidade.

Ainda que os empresários pensem num primeiro momento, num cliente à beira da porta de seu estabelecimento, esse não comparecerá, pois o alto custo do estacionamento o afugentará do centro, pois comprar é um ato que demanda tempo e dinheiro. Por isso, as lojas, bancos e supermercados da cidade, sabiamente, não cobram estacionamento para não afugentarem os clientes.

É claro que é necessário estacionamento para aqueles que vão esporadicamente ao centro da cidade, mas essas vagas, deveriam ser de cerca de 20% (das 1,3 mil vagas), ou seja, 260 vagas, com administração da própria Prefeitura, como por exemplo, estacionamento no entorno da praça Xavier Ferreira.

Os maiores prejudicados, como sempre, além dos chamados “flanelinhas”, serão os trabalhadores que terão que pagar para estacionar, diariamente, um valor que vai ultrapassar mais de R$ 200,00 no fim do mês.

Qual a vantagem de tirar dinheiro da população? É um Robin Hood às avessas, pois tira dinheiro de quem já tem pouco e concentra em quem tem muito, provavelmente de fora da cidade.

13 de março de 2009

Rezar ou não rezar

De acordo com a Wikipédia, FÉ é definida como “a firme convicção de que algo seja verdade, sem nenhuma prova de que este algo seja verdade, pela absoluta confiança que depositamos neste algo ou alguém. É a confiança em um fato que não se apóia em prova lógica ou evidência material”. Com essa definição, não é difícil entender porque as religiões se apropriaram e alimentaram a fé ao longo do tempo e por que a fé ainda resiste nos dias de hoje. Quanto mais emblemática é a natureza da fé mais forte e apaixonante ela é. Quanto mais arrojada, mais valor ela tem. Deste modo, por meio fé, o devoto explica o mundo, e para isso REZA, acreditando que possui o livre‑arbítrio (não no poder de escolher suas ações, mas de que com essas escolhas possa mudar as decisões de Deus).

Entretanto, se Deus vê tudo, sabe de tudo e é bondoso (onisciência, onipotência e onipresença e benevolência), para que rezar? Deus já não sabe da necessidade de todos; já não sabe das desgraças que vão acontecer; já não sabe das necessidades de cada um; já não sabe o merecimento de cada um? Qual a diferença que rezar irá fazer nisso? O que se pode pedir para Deus que Ele já não saiba?

Se Deus sabe tudo, então, o homem, perante Deus, não tem livre-arbítrio. Se Deus sabe de todas as coisas, já sabe o que você vai fazer antes que você o faça. Se Deus já sabe exatamente o que você vai fazer antes que você o faça, isso de alguma maneira significa que o livre‑arbítrio não existe, nem mesmo para Deus, pois ele já tem todas as deliberações em tempo real. Não existe imprevisibilidade de atos nem de conseqüências, porque Ele já sabe de tudo.

Ainda bem que a maioria das pessoas não avalia esses conceitos de modo racional. Acham que somente rezando, estarão mais próximas de Deus (um Deus pessoal, com emoções e que mora no céu). Por isso rezam; por isso acham que têm um livre-arbítrio. E rezando e achando que podem mudar uma situação, encontram o conforto espiritual para seus anseios e suas aflições. De um modo geral, as pessoas bondosas e generosas são as que menos rezam, pois sabem que basta praticarem o bem, fazendo boas ações e o resto lhes será retribuído.

Por fim, comprovações científicas têm nos mostrado que rezar ou não rezar não trás efeito sobre a vida real, só sobre a vida espiritual. Rezar não nos livrará das desgraças da vida; dos acidentes; das doenças; da crueldade; da morte prematura.

Em resumo:

· Rezar faz bem. Proporciona conforto espiritual e estimula o espírito do amor e da caridade;

· Deus é a Lei. A Lei funciona automaticamente. Não tem nada a ver com um deus pessoal ou com um deus emocional que se possa comover;

· Nem todo aquele que reza é bom. Nem todo aquele que é bom reza;
Não basta rezar, tem que ser bom. Basta ser bom, não precisa rezar.